Hoje escrevo sobre uma temática algo controversa, mas cujo debate é sempre importante:
Enquanto fotógrafos, poderemos tocar, ou não, na modelo? Se sim, em que situações?
Dentro deste universo de fotógrafo-modelo, podemos imaginar um sem-número de situações que poderão afectar a nossa resposta. Vamos ver as opções?
O fotógrafo pode ser homem ou mulher.
O modelo pode ser homem ou mulher.
Ambos podem ser conhecidos ou desconhecidos.
O modelo pode precisar de ajuda para se posicionar sem que haja um/a assistente.
E por aí fora…
Porquê tocar na modelo?
Quando me refiro a contacto físico, refiro-me não só ao simples gesto de mover e posicionar o cabelo, mas também ao segurarmos numa mão, um braço, um pé, e por aí fora.
Regra geral, ainda que seja em zonas aparentemente inofensivas, o contacto físico pode e deve ser evitado sempre que possível.
Se eu for fotografar um amigo modelo de longa data e o quiser numa pose que requeira, por exemplo, algum equilíbrio, então sei que estou à vontade para o contacto físico e ajudar o modelo a segurar-se ou a apoiar-se em mim enquanto trabalha a sua pose. Por oposição, se eu estiver a fotografar uma modelo pela primeira vez, naturalmente vou sugerir as diversas poses enquanto confirmo se ela precisa de ajuda, ou não, naquelas situações mais complexas.
Esta fotografia da Lisa não teria sido possível sem que eu a tivesse levantado e colocado em cima do canhão, e depois ajudado a descer. Felizmente ela é elegante e muito leve!
Também é verdade que existem modelos com outra disposição e que permitem esse contacto físico, mas a iniciativa terá de vir da modelo. Terão a vida facilitada, desde que mantenham sempre o respeito. Contudo, é essa linha de pensamento que devemos sempre seguir, ou acabamos por ser mais um nome para a lista de fotógrafos conhecidos por assediar as modelos. Conto já com muitas modelos experientes com as quais existe empatia e à vontade suficientes para haver algum contacto físico mas, mesmo nesses casos, é sempre bom algum diálogo no momento em que nos aproximamos da modelo para esse ajuste final na pose.
No caso desta foto, não houve necessidade inicial de contacto físico entre a modelo e o fotógrafo, mas a empatia com a Rita permitiu-me posicionar as pernas com mais detalhe recorrendo a pequenos toques no joelho e nos pés (imaginam o trabalho verbal necessário para posicionar cada parte do corpo ao centímetro caso a modelo não permitisse tal contacto).
Mas e o que podemos fazer quando não existe ainda essa empatia? Para começar, recomendo à modelo levar sempre uma assistente, seja uma amiga, uma 2ª modelo, ou mesmo a maquilhadora, caso ela assista à sessão fotográfica. Será mais um par de mãos com as quais a modelo certamente se sentirá mais confortável. Nos casos onde o fotógrafo sinta a necessidade de transmitir certa ideia de pose à modelo, pode sempre optar por métodos alternativos sem recorrer ao contacto físico. Um desses métodos é a simulação com os dedos ou a mão, exemplificando a pose de forma gestual. Naqueles casos em que apenas pretendemos uma ligeira mudança no rosto sem afectar a pose do corpo, podemos pedir à modelo que olhe para a nossa palma da mão e a siga com o olhar. Movemos e rodamos a nossa palma como acharmos necessário para que a modelo siga o ângulo e/ou orientação da nossa mão. Em último recurso, podemos sempre fazer nós mesmos, a pose pretendida.
Esta fotografia da Patrícia requereu um grande à vontade da parte dela, e também uma ajuda valiosa: agradeço à minha amiga, também modelo e fotógrafa Mónica Lopes, todo o carinho e cuidado com que posicionou o cabelo molhado da Patrícia sobre o peito dela, resultando nesta fotografia natural e delicada. São as vantagens das fotógrafas…
Não, aqui não houve contacto físico. Bastou pedir à Andreia que deslocasse o lenço um pouco para baixo do seu lado direito, e tudo ficou perfeito. No caso dela, sei que estaria à vontade para posicionar eu mesmo o lenço preto caso fosse necessário, mas não é regra. Habituem-se a solicitar primeiro a permissão da modelo para intervirem com as vossas mãos e evitar que a modelo perca a pose perfeita.
Para terminar, resta-me sugerir que conversem sempre com as vossas modelos no momento da fotografia, e deixem bem assente até que ponto a modelo permite o contacto físico. Irão ver que muitas têm uma boa tolerância e até agradecem os pequenos micro-ajustes com as pontas dos dedos, pois são detalhes que apenas o fotógrafo conseguirá perceber.
A minha liberdade termina onde começa a liberdade do próximo.