Negócios são negócios. Trocas são trocas. E vemos cada vez mais pessoas a negociarem o que deveria ser uma troca e a quererem trocar o que deveria ser um negócio. Confusos?
Já tive a oportunidade de falar aqui de O valor de um trabalho, mas gostaria de elaborar e deixar mais explícito o que é isto afinal de trocar um serviço por outro, ou trocar o nosso tempo por publicidade.
Um negócio normal é feito através da troca de um serviço ou produto por um valor monetário. Mas num mundo em que a visibilidade e publicidade são importantes, podemos sempre considerar a possibilidade de trocarmos os nossos serviços pela publicidade e novas oportundiades proporcionadas por alguma pessoa ou entidade a quem fornecemos esses serviços.
Alguns eventos fotográficos gratuitos são baseados neste princípio recíproco: fotógrafos, maquilhadoras, modelos, entre outros, trabalham em conjunto para que todos fiquem com fotografias elaboradas desse evento. As modelos e maquilhadoras ganham portfólio, e os fotógrafos também.
Outros eventos similares que não são gratuitos acabam por seguir o mesmo princípio. Contudo, como normalmente quem paga inscrição são os fotógrafos, não me parece justo de todo, mas isso é conteúdo para outro artigo.
No extremo oposto encontramos, por exemplo, os casamentos. Qualquer fornecedor que colabore neste tipo de evento será remunerado de acordo com os valores combinados previamente com os clientes (os noivos). Fotógrafos, animadores, maquilhadoras, cabeleireiras, para mencionar apenas alguns.
Voltando ao sistema de trocas, não é raro um fotógrafo recorrer a este sistema ao fotografar um/a modelo, ou uma maquilhadora decidir não cobrar uma maquilhagem, se a modelo com quem trabalham lhes proporcionar uma publicidade significativa.
Na maior parte das vezes, esta troca é compensada pela publicidade que advém da parceria entre as duas ou mais partes, mas podem existir até outras formas de compensação.
Novamente no ramo da fotografia, e posso dar o meu exemplo pessoal, sempre que tenho possibilidade, consigo providenciar maquilhadora e transporte para os/as modelos, o que acaba por compensar a pouca publicidade que a minha modesta página consegue oferecer. Neste caso, será uma troca não tanto pela publicidade, mas pelas condições vantajosas para a outra parte.
E quando há uma das partes que não concorda com as condições? Aqui é que começam as situações caricatas, pois muitos desses casos têm contornos insólitos e acabam retratadas no álbum Humor na minha página do Facebook.
Vemos muitas situações, normalmente modelos, a cobrarem um cachet generoso para uma simples sessão fotográfica. Enquanto não me compete a mim decidir o valor do trabalho de outra pessoa, temos que reconhecer que alguma coisa não está bem quando uma modelo sem experiência exige ser paga para ser fotografada, quando lhe é garantida maquilhadora e transporte sem custos, e ainda pode escolher que fotografias dessa sessão quer receber editadas.
De forma paralela e, como já tive a oportunidade de relatar anteriormente noutros artigos, também acontece recebermos propostas ridículas como pseudo-pagamentos de trabalhos com valor significativo.
Já fui requisitado para fotografar um casamento a troco de um jantar. Também estive para fotografar algumas modelos numa loja de roupa, mas a cliente desistiu quando lhe perguntei qual seria a compensação (eu iria ter uma deslocação desde a margem sul até Lisboa de propósito).
Com tantos casos dos dois lados da balança, resolvi criar uma série de exemplos genéricos com base na experência de ambas as partes. Deverá ser a experiência o factor decisivo, mas vamos ver excepções… Tendo em conta que existem inúmeras combinações, irei exemplificar apenas algumas interações que encontramos no mundo da fotografia.
Caso 1:
Fotógrafo e modelo, ambos com experiência. Aqui, a balança está equilibrada. Logo, o recomendado é optarem por uma troca, também conhecida por TPF. Ambos cedem o seu tempo, e ambos levam fotografias para casa. Caso típico de Win-win (todos ganham).
Caso 2:
Um fotógrafo experiente e uma modelo em início de carreira. O mais lógico neste caso será a modelo pagar ao fotógrafo pelo seu tempo, pois sem experência significativa, poderá não trazer portfólio novo ao fotógrafo. Em última análise, deverá ser este a decidir cobrar ou não, este trabalho.
Caso 3:
Um fotógrafo inexperiente e uma modelo com alguns anos no ramo. O mais lógico será a modelo ter algum cachet, pois como o caso anterior, o fotógrafo poderá não trazer nada de substancial ao seu portfólio que justifique uma troca não-monetária.
Caso 4:
Fotógrafo e modelo, ambos inexperientes. Aqui será igual ao caso 1. Ambos estão em situação idêntica, pelo que o ideal será fazerem uma troca.
Caso 5:
Agora temos uma maquilhadora e uma modelo, ambas experientes. Podem optar por uma troca se o serviço de maquilhagem não estiver associado a alguma situação específica da modelo, como um casamento ou festa. Nesse caso, claro que a maquilhadora terá de ser paga pelo seu trabalho.
Caso 6:
Se, no entanto, a maquilhadora experiente tiver a oportunidade de trabalhar com uma jovem modelo em início de carreira, o mais provável é haver uma compensação financeira. Excepção aqui, se a modelo, mesmo inexperiente, apresentar alguma característica física de interesse para a maquilhadora, mas terá de ser esta a realçar essa informação, e talvez não cobrar o trabalho.
Caso 7:
Uma situação diferente, em que uma jovem maquilhadora precisa da colaboração de uma modelo experiente, é de esperar que a modelo tenha algum tipo de cachet.
Caso 8:
Mas, se maquilhadora e modelo forem pouco experientes, poderão ponderar um regime de troca para ambas ganharem com a situação.
Caso 9:
Agora vamos ter alguns casos diferentes. Um fotógrafo que seja responsável por registar um casamento terá que receber o seu valor de tabela para esse tipo de evento. Excepção? Apenas e unicamente se o fotógrafo achar que deve fazer algum desconto ou oferta – se os noivos forem amigos ou familiares, por exemplo. Mas tal nunca deverá ser sugerido por quem paga o serviço.
Caso 10:
Sem diferença para o caso anterior. Mesmo um fotógrafo sem experiência deverá ser compensado pelo trabalho. Poderá, sim, ser um valor mais económico para o cliente quando comparado com um fotógrafo experiente ou um estúdio com mais capacidade técnica. É um trabalho e não uma troca.
Caso 11:
A profissional com experiência que trata das maquilhagens da noiva e convidadas receberá o seu cachet previamente combinado. A única excepção será idêntica ao caso anterior. Se a maquilhadora quiser oferecer algum tipo de serviço, ficará a seu critério. Novamente, esta atitude tem de vir unicamente de quem é contratado/a para o trabalho.
Caso 12:
Da mesma forma, a profissional de maquilhagem sem experiência irá também receber a sua parte, embora normalmente as maquilhadoras mais novas pratiquem valores mais económicos, à semelhança do que acontece em outras áreas.
Caso 13:
Agora o mundo profissional das modelos: seja um anúncio de TV, passagem de moda, sessão fotográfica para algum catálogo de vestuário, etc.. Será um trabalho que deverá ser remunerado como qualquer outro.
Caso 14:
De forma similar, uma modelo sem experiência deverá receber remuneração ao participar de uma campanha publicitária ou trabalhos semelhantes. As agências de modelos têm o dever de juntar modelos com os clientes que os/as procuram, mediante um conjunto de características específicas para o trabalho em questão.
Conforme podemos constatar, vemos que a experiência profissional é um factor decisivo quando os interesses das duas partes entram em conflito. Mas vejam o lado positivo: se não conseguem agilizar e conciliar os vossos interesses porque a outra parte não cede, então será o melhor para vocês. Não percam o vosso tempo com oportunidades que dão demasiado trabalho a realizar devido a terceiros.
Por outro lado, se forem uma modelo experiente e precisam de um novo book fotográfico por razões profissionais, ponderem o investimento de um fotógrafo em cujo trabalho confiam.
De forma idêntica, um fotógrafo sem experiência pode ponderar pagar a uma modelo sem experiência, se achar que ela tem potencial criativo para o ajudar a ganhar experiência e portfólio.
Cabe a cada um de vocês decidir que excepções são estas, e como elas vos podem beneficiar. Mas elas existem, e não precisam de encarar esta tabela a 100%.
Existe um outro conjunto de situações que não mostrei nos exemplos por serem mais complexas: trata-se da parceria entre três ou mais partes – fotógrafo, maquilhadora, e modelo (eventualmente, cabeleireira, ou uma 2ª modelo).
Nestes casos muito variáveis, tudo depende de quem solicita a colaboração, e a quem. Uma modelo pode solicitar uma sessão fotográfica em regime de TPF sem maquilhadora para evitar eventuais custos mas, se o fotógrafo tiver conhecimento de alguma maquilhadora que disponibilize os seus serviços nessa modalidade, para o dia e hora combinados, então ficará uma troca entre todos.
Se, no entanto, o fotógrafo achar que deve cobrar essa sessão (solicitada pela modelo), a participação da maquilhadora deverá seguir o mesmo princípio que rege o pagamento ao fotógrafo. Se a modelo paga ao fotógrafo, porque não pagar também à maquilhadora? É apenas lógico, mas…
Imaginemos que os três intervenientes decidem fotografar a 50 km de casa (moram todos perto uns dos outros). Há uma pessoa que leva o seu carro para todos pouparem deslocação e irem juntos. Aqui, deverá ser paga a pessoa que leva a viatura, para compensar o gasto de combustível, portagens, etc.. Independentemente da sessão ter um valor associado ou não, entra aqui a teoria do sistema de troca. A sessão pode não ser paga, mas quem disponibiliza a sua viatura para benefício de todos deverá receber alguma compensação financeira.
Ou seja, ao invés de haver alguém no papel de cliente, dividem o valor da deslocação pelo número total e todos pagam a quem leva a viatura. É importante deixar este aspecto bem definido antes do dia da sessão fotográfica, para que não existam confusões ao final do dia (uma pessoa paga, a outra não, etc.).
Para resumir, ficamos a saber que o principal critério para decidirmos se pagamos ou cobramos num evento/sessão fotográfica, é a relação da experiência com o ganho posterior em publicidade e visibilidade para o nosso “negócio”. Compensa ser fotografada sem receber dinheiro, sabendo que as fotografias vão circular nas redes sociais, com a identificação do perfil ou página? Ou já temos experiência e know-how suficientes para podermos dispensar um determinado evento? Acima de tudo, sabermos como nos relacionarmos com os outros intervenientes é essencial para o nosso sucesso. E claro, profissões que se encaixem nestes esquemas, também poderão tirar partido: bailarinas, cabeleireiras, animadores, etc.. Todos os cargos parecem ganhar com algum tipo de visibilidade, e este onceito já não é novo. Apenas tem sido mais adaptado às redes sociais de forma exponencial nos últimos anos.
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