Há largos meses atrás, iniciei uma procura por modelos voluntárias para um projecto muito especial e fora do vulgar.
Na verdade, estas “modelos” nem sequer precisavam de ter experiência a serem fotografadas, apenas o gosto pela captura de imagens com um conceito forte por trás. E o conceito do Projecto Gaia é muito diferente do que costumamos ver em editoriais, revistas, e locais habituais (incluindo no meu próprio site!).
O que é o Projecto Gaia? Sabemos que nos dias de hoje, em pleno século XXI, tudo o que envolve a sexualidade é assunto capaz de causar algum tabu ou desconforto social. Mas a verdade, é que algumas situações existem desde que o ser humano tem lugar, em particular, no lado feminino. E uma situação em especial, que causa mais desconforto, tabu, e até mesmo repugnância por parte de homens e mulheres, é a menstruação feminina.
A cada 28 dias, ou mais, em alguns casos, o corpo feminino expele sangue que advém da descamação no interior do útero.
- Do ponto de vista biológico, é um processo necessário e que mostra como o corpo da mulher continua fértil e saudável para o processo de reprodução.
- Do ponto de vista pessoal, é desconfortável, incómodo, para não falar nas dores e transtorno causados.
- Do ponto de vista social, tabu e raramente é tema de conversa (excepto em círculos de amigas próximas ou familiares directas, como mãe e filha).
- Do ponto de vista publicitário, apenas costuma ser moralmente aceitável quando o “sangue” é representado por líquido azul. Já se conhecem campanhas de fabricantes de produtos para a higiene feminina que tiveram a audácia de representar o sangue com líquido vermelho. Os resultados? Alegadamente chocantes e ofensivos. Mas realistas.
- Do ponto de vista fotográfico? As modelos podem querer evitar essa altura do mês e não agendar sessões fotográficas, pois podem não se sentir confortáveis e fisicamente bem para essas actividades. Os fotógrafos podem querer evitar uma modelo menstruada se tiver agendado uma sessão fotográfica boudoir, particularmente se implicar nú artístico.
É aqui que o Projecto Gaia se destaca.
Para contribuir com a minha pequena parte para esta luta contra o tabu, realizei uma pesquisa por voluntárias que quisessem representar a força e a naturalidade da menstruação. Foi um processo naturalmente longo, pois trata-se de um assunto extremamente íntimo e delicado. O objectivo? Fotografar o corpo da mulher desprovido de roupas durante o processo de menstruação, sem censura nem disfarces, na sua forma mais nua e explícita.
Algumas das fotografias foram enviadas pelas voluntárias, dada a impossibilidade de me deslocar e as fotografar, mas foram todas ajustadas de forma idêntica. Algumas pessoas sugeriram-me, no início desta demanda, que fizesse sessões fotográficas com nús artísticos mais convencionais, e depois colocasse sangue digital na pós-produção. Recusei prontamente essa ideia, pois iria contra o próprio conceito do projecto. Certamente que teria este artigo pronto mais cedo, mas preferi aguardar pelas oportunidades de fotografar as voluntárias (ou receber as suas fotos, como alternativa).
Os resultados estão na continuação deste artigo mais para baixo. Devo avisar os leitores mais sensíveis para a natureza nua e crua das imagens: não se tratam de fotografias fine-art como as que podem ver na galeria de nús artísticos aqui no meu site. São fotografias com algum impacto visual, mas o Projecto Gaia não seria o mesmo se estas fotografias não fossem assim. Para verem as imagens deste projecto, cliquem na ligação abaixo.
Agora que avançaram para ver o resultado deste projecto, já se devem ter perguntado: Mas porquê este trabalho todo? Porque, enquanto fotógrafo, posso captar a natureza humana, a sensualidade do corpo, as curvas, os pormenores. Mas imagens bonitas não mudam mentalidades. Posso sim, demonstrar como a menstruação pode ser algo natural e parte integrante do ser feminino. E como tal, merecedor do nosso respeito. Olhem, admirem, contemplem. E lembrem-se destas imagens da próxima vez que uma mulher que vos é próxima entrar nesta altura do mês. Não são menos sensuais por estarem manchadas de vermelho…
Obrigado às fantásticas voluntárias que me presentearam com o seu momento mais íntimo. Muito mais intensa que uma sessão fotográfica de nú artístico, a captação destas imagens exigiu um à vontade muito superior a tudo o que poderiam imaginar. E por isso, têm o meu agradecimento mais sincero.
Leitoras: querem contribuir com uma fotografia vossa para este projecto? A qualquer altura, poderei adicionar mais imagens a este artigo. Estejam à vontade para me contactar por email ou pelos meus perfis nas redes sociais. Poderemos agendar uma sessão fotográfica, poderão facultar-me imagens tiradas por vocês, ou poderão enviar as fotos através do botão localizado mais abaixo nesta página. A escolha é vossa. Todas as voluntárias poderão posteriormente agendar uma sessão fotográfica de tema e local à vossa escolha como forma de compensação. Nenhuma voluntária será identificada, e poderei remover marcas ou sinais identificadores que achem relevantes nestas imagens.
Gostariam de participar, mas querem manter a confidencialidade? Sem problema, podem enviar-me as vossas fotografias de forma completamente anónima através do botão abaixo, e limitar-me-ei a fazer a sua pós-produção e publicação. Não tenho forma de saber quem envia imagens através deste método, pelo que perderão a oportunidade de agendarem a vossa sessão fotográfica sem custos.
O anonimato será garantido.
Obrigado por lerem e seguirem. Para terminar o meu texto, deixo os pensamentos de algumas das voluntárias, pois são as melhores pessoas para descrever este projecto.
Eu como mulher, acho este projecto excelente, de encorajamento, onde mostra um símbolo do eterno feminino. O período demonstra uma fase na mulher que não é apenas sangue, mas sim purificação.
Filipa, 34
Tenho em mim a vida ao carregar uma memória física de um amor gerado e desenvolvido no meu útero… Existe em mim um ciclo de renovação: germinação, maturação e queda. E por isso eu sou forte. E por isso eu sou Mulher!
Madalena, 31
Os leitores devem estar a perguntar-se o porquê de ter participado neste projecto… Simplesmente porque quero que o estigma criado em torno da menstruação seja quebrado de uma vez por todas. A mulher estar menstruada não é estar impura como em algumas religiões/culturas o retratam mas sim estar em comunhão com a natureza enquanto o seu sangue é gerador de vida… Sem o sangue menstrual não poderia haver vida.
Jessica, 35