Caros leitores
Enquanto fotógrafo amador e “sem fins lucrativos”, cujas sessões fotográficas são baseadas num regime de colaboração, existe pouca margem de manobra quando me deparo com modelos que têm um cachet e me pedem valores de dois e até três dígitos pela honra de as fotografar.
Mas não quero começar aqui a denegrir a imagem de ninguém, pois cada um/a tem a sua forma de trabalhar. É tão justo termos um cachet, como termos a iniciativa de colaborar de forma modesta e humilde com a outra pessoa. Mas o que leva qualquer uma das partes a cobrar determinado valor? E que valor deverá ser cobrado?
Enquanto fotógrafo, tenho os meus gastos: Máquina fotográfica, cartões de memória, objectivas, etc., enquanto que o perfil típico de modelo terá cursos e formações, guarda-roupa, etc. Portanto, qualquer uma das partes, fotógrafo ou modelo, terá motivos suficientes para exigir à outra parte algum valor como compensação pela sessão fotográfica. Recentemente, elaborei este pequeno esquema simplista e com um toque de humor, mas cujo princípio base poderá ser utilizado de forma muito prática.
Tudo poderia depender de quem lança o convite inicial para a sessão. Mas isso iria fazer qualquer fotógrafo evitar convidar modelos com a justa causa de não ter de pagar nada logo a priori. E as modelos, também não iriam sugerir a nenhum fotógrafo fazerem uma sessão para evitarem essa despesa.
Qem pagará então? Quem tem menos experiência? Quem precisa de preencher o portfólio? Quem tem mais possibilidades financeiras? Todas podem ser correctas, depende apenas do contexto. Acontece que estas sessões TPF/em regime de colaboração são tão úteis e benéficas, tanto para quem fotografa, como para quem é fotografado/a.
Tenho o prazer de ter conhecido uma modelo de tripla nacionalidade Indiana-Paquistanesa-Tailandesa, também apresentadora, praticante de dança do ventre, e que, na sua vinda ao nosso país, me concedeu um pequeno mas divertido ensaio fotográfico. Posso adiantar que não houve troca monetária alguma nesse dia, tendo sido eu a “lucrar” mais que ela própria, que já contava com milhares de seguidores na sua página e inúmeras sessões fotográficas com fotógrafos bem mais experientes que eu. Como a admirei bastante, disse-lhe com toda a honestidade que fiquei surpreendido pelo facto dela ter aceite o meu convite, dada a minha inexperiência (que, naquela altura, era bem mais notória que nos dias de hoje).
Ela riu e continuou a sorrir o resto do dia…
Que esta história sirva de inspiração para as modelos mais novas: podem ter participado em diversos eventos, podem ter ganho, podem ter sido as melhores nesse dia, mas existirão sempre outras modelos igualmente adequadas para determinados ensaios e eventos fotográficos.
Então se vamos fotografar sempre em modo “colaboração”, como ganhamos alguma coisa afinal? A resposta está nos eventos: casamentos, baptizados, alguns desfiles pagos (muitos são cada um por si e usem as fotos para portfólio), eventos particulares de empresas, entre outros trabalhos diversos, como fotografia de produtos para revistas e demais publicações. A tal experiência que vamos melhorando com os ensaios simples, vai ser posta em prática neste tipo de eventos, onde estaremos a prestar o nosso melhor a troco de alguma compensação (monetária ou outra previamente combinada).
De forma paralela, os/as modelos deverão ter como principal fonte de rendimento os trabalhos indicados pelas agências onde estarão inscritos/as. Acções de promoção de produtos, campanhas publicitárias, desfiles, eventos e workshops, eventualmente alguns concursos que possam ganhar por mérito próprio, etc.. Excepto se um fotógrafo requisitar a presença de uma determinada modelo no seu portfólio, ou se estiver a elaborar algum trabalho mais específico (uma tese fotográfica, por exemplo), aí será justo pagar à modelo pelo seu tempo e trabalho.
Agora, que valores pensam pedir quando vos solicitam uma sessão (fotógrafos) ou o vosso tempo para posarem (modelos)? Houve até uma modelo relativamente inexperiente (1 ano a posar), e cujo cachet ascendia aos 100 € por hora, caso fosse um ensaio com guarda-roupa normal, ou 150 € por hora no caso de lingerie. Escusado será dizer que não perguntei valores para um ensaio de nú artístico. Vamos a contas?
Se eu fotografar 1 vez por semana (o fim de semana é o único tempo livre que tenho para fotografar), fico com 4 sessões por mês. A média de cada sessão fotográfica dura entre 3 a 4 horas. Portanto, eu iria dispender entre 1.200 a 1.600 € por mês apenas em sessões fotográficas, se todas as minhas modelos tivessem este cachet.
Para resumir: sejam realistas.
A melhor dica que posso dar às modelos, é trabalharem para saberem aquilo que têm de melhor, e que outras modelos não tenham. Se não souberem responder a isso, serão apenas mais uma no meio de milhares. Valorizem-se, sim, mas sejam também humildes para reconhecerem que podem sempre participar em ensaios onde, apesar de não serem remuneradas, poderão ganhar experiências novas e diferentes. Especialmente as modelos mais novas que poderão conhecer novas caras e abrir as portas para outros rumos no mundo da moda. Se o fizerem, não irão perder a vossa dignidade; apenas irão crescer enquanto pessoas, e acrescentar mais uns pontos ao vosso perfil.
Posso relatar um exemplo que aconteceu comigo: participei num evento de airsoft que incluía uma mini sessão fotográfica na parte da tarde. E sim, eu paguei para participar nesse evento, onde outros fotógrafos não iriam, excepto se fossem eles mesmos, remunerados. Pois nesse evento, conheci diversos jogadores e modelos com quem ainda mantenho contacto hoje em dia, e cujos trabalhos que me proporcionaram posteriormente já me “pagaram” literalmente o pouco que paguei para participar, qual investimento a médio prazo. Se não fosse esse evento, não teria fotografado um baptizado, nem tido 2 pequenos trabalhos, cada um remunerado. Um deles trouxe mesmo para o meu local de trabalho pois implicava uma impressão de um quadro. Tudo, porque resolvi pagar do meu bolso e participar num evento, meses antes.
Acima de tudo, divirtam-se e tenham boas experiências a fotografar.
Chegará uma altura na vida em que não vão querer trocar essa sensação por dinheiro…
O meu obrigado por lerem até ao fim 🙂